Enquanto a CPI da Covid avança no Senado, a semana na Câmara foi de retrocessos inacreditáveis. Chega a ser irônico que o esquema de corrupção do governo Bolsonaro seja relacionado à compra de tratores superfaturados. O que estamos vivendo é um tratoraço sem precedentes.
Arthur Lira conduziu, em regime de urgência, a aprovação da reforma do regimento interno da Casa, que atropela as possibilidades de atuação da oposição. Alguns danos foram reduzidos nas negociações, mas o texto aprovado é terrível. Com a desculpa de “modernizar” o regimento, as mudanças restringem o debate e silenciam qualquer voz que destoe da base governista.
Mesmo com intensa pressão de movimentos, ambientalistas, organizações internacionais e até ex-ministros do Meio Ambiente, o PL que acaba com o licenciamento ambiental também foi aprovado, por 300 votos a 122. É o bolsonarismo cumprindo a promessa de Ricardo Salles, aproveitando a crise para fragilizar a legislação ambiental e abrir espaço para a devastação. Nossa bancada do PSOL apresentou destaque para impedir a devastação de territórios indígenas e quilombolas ainda não homologados e garantir a proteção de unidades de conservação e do nosso patrimônio histórico-cultural. Foi rejeitado. Os estragos para o meio ambiente e para povos e comunidades tradicionais são internacionalmente reconhecidos.
No fim da noite de quarta, Lira anunciou ainda a criação de uma Comissão Especial para avaliar a PEC do voto impresso. É impensável como a Câmara pode se prestar a esse nível de aceno a Bolsonaro quando a população segue entregue à própria sorte no enfrentamento da pandemia.
Ao lado de colegas da oposição, nossa bancada do PSOL lutou bravamente contra todos esses absurdos – mas as negociatas com o poder econômico falaram mais alto, mais uma vez. Seguiremos resistindo.
Imagem em destaque: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados