Marielle foi semente que mobilizou mulheres negras a ocuparem a política institucional. A impunidade de seu feminicídio político, no entanto, potencializa o jogo que opera desde sempre para nos expulsar dos espaços de poder.
Vencida a barreira quase intransponível das eleições, o racismo opera para afastar definitivamente pessoas negras, principalmente as mulheres, de cargos eletivos, impedindo de forma estrutural que realizem seus mandatos e seus direitos políticos.
Cotidianamente, vivenciamos críticas violentas aos nossos posicionamentos políticos; ataques racistas, misóginos e campanhas de desinformação; redução e impedimento das nossas presenças nos espaços políticos; exposição de contextos pessoais para escrutínio público.
Violências extremas têm se tornado cada vez mais comuns, tais como ameaças de morte, ameaças de cassação dos mandatos por divergências ideológicas, atentados contra a integridade física e a vida. Os exemplos são muitos: Iza Lourença e Taise Braz foram ameaçadas de processos injustos de cassação. Benny Brirolly, Talíria Petrone, Carol Dartora, Andréia de Jesus, Suéllen Rosin, Ana Lúcia Martins, Erika Hilton foram ameaçadas de morte. Vivi Reis teve seu escritório parlamentar invadido e depredado.
Se o objetivo é de fato eleger mulheres, sobretudo mulheres negras, trans e indígenas, além das cotas partidárias, mecanismos de financiamentos de candidaturas e tempo de rádio e TV, urge a necessidade que sejam criados programas de proteção e viabilidade do exercício de seus mandatos.
A liberdade deve ser a nossa medida de atuação política. Se as regras jurássicas da política institucional não nos cabem e utilizam o racismo e o machismo para tolher nossos direitos, estamos aqui para mover as estruturas do poder. Para isso, no entanto, exigimos condições para a efetividade da democracia.
Por Marielle, resistiremos, imaginando e construindo o novo que queremos e precisamos, por nós, as que vieram antes e pelas que virão!